1. As várias formas da nossa presença no Brasil
1) Visão de Igreja.
2) Centros de irradiação.
3) Paróquias.
4) Dimensão clerical.
5) OCD México.
7) Comunidades inseridas.
8) Tentativas que não tiveram futuro.
2. A Família Carmelitana
1. Ordens Terceiras.
2. Congregações Carmelitas.
3. Mosteiros.
4. Grupos de Leigos e Leigas Carmelitas.
3. Iniciativas inter-carmelitanas
1. Entre as três Províncias.
2. Entre frades, monjas, irmãs, leigas e leigos
1. As várias formas da nossa presença no Brasil
No início da Ordem, nossa presença na Igreja era em forma de centros de irradiação: igrejas conventuais, onde o povo acorria para receber os sacramentos e participar dos ofícios religiosos. No decorrer dos séculos, nossa presença foi mudando de aspecto, geralmente de acordo com a situação do povo no meio do qual os frades estavam convivendo. Existem estudos da parte do frei E. Boaga que enumera os vários tipos de presença e de apostolado que nós tivemos nos vários países: desde a função de capelão em navios comerciais até eremitas separados do povo.
Aqui convém lembrar como, desde o início, tivemos sempre muita discussão sobre qual deveria ser o apostolado privilegiado dos carmelitas. A discussão tem a ver com a tensão e o necessário equilíbrio entre vida de Oração e serviço do povo. Logo na segunda metade do século XIV, após a chegada na Europa, tivemos a tensão representada nas pessoas de São Simão Stock e de Nicola o Francês, ambos superiores gerais legitimamente eleitos. Frei Nicola acabou renunciando e escreveu um livrinho IgneaSagitta que até hoje deixa transparecer como era violenta a discussão, pois ele faz acusações gravíssimas aos do outro lado, achando que a Ordem estava se desvirtuando. Mas prevaleceu o bom senso de Simão Stock. Esta mesma tensão percorre os séculos e perdura até hoje, graças a Deus.
No Brasil chegamos como Missionários vindos de Portugal. Uma vida bem diferente da vida nos conventos da Província Mãe. Tivemos muitas formas de atividade pastoral, mas sempre dentro dos contornos da visão de Igreja da época.
1) Visão de Igreja. Sofremos as limitações da visão da Igreja daquela época colonial. Seguem alguns exemplos. Deve haver muito mais:
* Os europeus (entre eles nossos frades de Portugal) que aqui chegaram achavam que os ritos e a religião dos índios eram coisas do diabo que deviam ser eliminados e destruídos.
* A ação missionária orientava-se pela ameaça do inferno e pelo medo da condenação eterna, pois se pensava que “fora da igreja não há salvação”. A trágica conversa entre caciques indígenas e missionários franciscanos do México.
* Era proibido aceitar índios como possíveis membros da Ordem. A proibição de aceitar negros nas Ordens religiosas continuou até o começo do século XX.
* Sem se darem conto, a Missão estava a serviço do avanço colonialista.
2) Centros de irradiação. Nosso Convento de Angra dos Reis era chamado “Hospício”, e de lá os frades procuravam servir às populações das ilhas. Só se tornou Paróquia no fim do século XIX. Durante mais de 250 anos era um centro de irradiação. Nosso convento da Lapa no Rio de Janeiro, até hoje, é um oratório conventual e não é paróquia. Nosso convento em Itu não é paróquia. Em Santos não temos paróquia. Em Salvador não temos paróquia. Recentemente, nossa casa no Planalto em Belo Horizonte não é paróquia.
3) Paróquias. Apesar deste nosso passado, hoje prevalece entre nós a presença em forma de “paróquia”. Os seguintes conventos estão ligados a uma paróquia: o Conventão, Itaim, Belo Horizonte (Grão Mogol), Unaí, Brasília, Palmas, Angra dos Reis, Vicente Carvalho. O mesmo se diga das casas que foram fechadas recentemente: Jaboticabal, Jacobina, Paracatu, Vazante, Guarda-Mor, Arinos, João Pinheiro, Bonfinópolis.
4) Dimensão clerical. A consequência disso é a diminuição de irmãos leigos. Desde o início da Ordem até recentemente, grande parte dos frades eram o que se chamava “irmãos leigos”. Quando entrei na Ordem em 1951, tínhamos irmãos leigos em vários conventos. Foram diminuindo, porque cresceu a paroquialização da nossa presença. Vários dos últimos irmãos se tornaram sacerdotes: frei Rafael em Santos, e frei Vitor Lisboa. Hoje, temos um único irmão leigo que é frei Victor Krüger. No Nordeste também havia vários irmãos. Agora só tem um irmão que é frei Terésio que vive em Recife. Havia frei Geraldo Dantas, que acabou se desligando da Ordem. No comissariado também temos um único irmão leigo que é frei Romualdo. A tendência de clericalização cresceu devido ao fato de que para o irmão é difícil encontrar um lugar que lhe dê identidade dentro do trabalho paroquial onde o status real deve ser de sacerdote ou no mínimo de diácono. No geral, hoje, nas várias ordens mendicantes, cresce a tendência de desclericalizar, aumento no número de irmãos e se diversifica a forma de presença no meio do povo. O atual crescimento numérico do clero diocesano torna cada vez menos necessário que nós religiosos assumamos as paróquias. Isto nos obriga à nossa missão original como “frades”, “freiros”, “levitas”.
5) OCD México. Creio que neste ponto vale a pena olhar o exemplo dos nossos confrades carmelitas descalços do México. Alguém definiu a diferença entre calçados e descalços assim: “Os descalços quando abrem uma nova casa, criam um centro de espiritualidade; os calçados quando abrem uma casa nova, criam uma paróquia! ”. Os descalços no México têm em torno de quinze casas, das quais só duas são paróquias: uma no centro da Metrópole e a outra no meio dos índios. As outras todas são centro de irradiação e cinco ou seis delas são Centros de Espiritualidade.
6) Outras formas de serviço ao povo. Aqui convém lembrar as várias outras formas de atuação nossa no meio do povo e a serviço da Igreja: a São Martinho no Rio de Janeiro com os meninos de rua; os trabalhos sociais nas várias paróquias; o trabalho na linha de espiritualidade e Bíblia; a experiência eremítica de Dom Vital na Serra do Rio das Pedras em Lídice, RJ.
7) Comunidades inseridas. Nos anos setenta e oitenta tivemos várias iniciativas novas na forma da nossa presença no meio do povo. Elas estavam ligadas à renovação que nascia do Vaticano II e de Medellin. Tento lembrar algumas:
* Tivemos várias comunidades inseridas: aqui em São Paulo, na nossa Paróquia, do outro lado da Avenida Liberdade, perto do Glicério, senão me falha a memória, na rua Sinimbú, frei Pedro Jansen morou aí algum tempo com dois frades estudantes que acabaram saindo.
* Tivemos também uma comunidade inserida na favela Mundo Novo perto da Rodoviária, onde morava um grupo de nossos estudantes clérigos, entre eles o ex-frei Rafael, agora professor de Bíblia de vocês.
* Com a assessoria de Dom Paulo Cardoso, tivemos encontros de frades e irmãs carmelitas inseridos no meio popular.
8) Tentativas que não tiveram futuro. Tentativa de fundar uma missão no Mato Grosso nos anos vinte e trinta na época do frei Canísio Mulderman. Fundação em Maroím, Sergipe, com frei Gilberto e frei Nuno. Fundação em Curitiba com frei Vicente e frei Bartolomeu, da qual só ficou o nome na paróquia Nossa Senhora do Carmo. Na Diocese de Paracatu tivemos paróquias em Vazante, Guardamór, Arinos, Bonfinópolis e Paracatu até os anos sessenta na época de Dom Eliseu, dom Raimundo Lui e dom José Cardoso, bispos carmelitas.
2. A Família Carmelitana
1. Ordens Terceiras.
As Ordens Terceiras existem no Brasil há vários séculos. Na região de Minas Gerais, elas entraram bem antes dos frades e foi a existência das Ordens Terceiras que atraiu os frades para Minas. Graças à atuação dos irmãos e irmãs terceiros, a Devoção à Nossa Senhora do Carmo já existia por lá antes de nós, os frades, chegarmos. Basta ver como em Minas existe o maior número de cidades e paróquias com o nome de Nossa Senhora do Carmo.
Hoje em dia, a variedade entre os sodalícios é grande e apresenta um campo, onde podemos e devemos ajudar muito. Há sodalícios antigos que tem dificuldade em se atualizar, pois sua piedade está limitada em esquemas antigos. Mas há sodalícios novas com grande vitalidade e atuação
2. Congregações Carmelitas.
1. As Irmãs Carmelitas da Divina Providência. Congregação fundada em 1898, ligada à Igreja do Carmo na Lapa no Rio de Janeiro,
2. As Irmãs Missionárias Carmelitas no Nordeste. Congregação fundada em 1936 pelo frei Casanova. O lema delas é muito significativo: “Ir aonde ninguém quer ir”.
3. As Irmãs Carmelitas Missionárias de Santa Terezinha do Menino Jesus. Congregação fundada na Itália nos anos 20 do século XX por frei Lourenço van den Ehrenbeemd, carmelita da nossa Ordem, e pela irmã Crossifissa. Graças à ajuda do Dom Eliseu van de Weyer, bispo carmelita de Paracatu, elas vieram ao Brasil em 1947 e criaram a primeira comunidade em Paracatu. Hoje, Colégio Dom Eliseu.
4. As Irmãs Carmelitas do Instituto Nossa Senhora do Carmo. Congregação fundada na Itália. Vieram para o Brasil a pedido de um padre Salesiano, missionário em Manaus e irmão de uma das irmãs desta Congregação, irmã Amabile. Inicialmente, não tiveram muito contato conosco. Só nos últimos anos, a pedido da própria superiora geral de Roma, fizeram uma fundação nova em Unaí.
5. As Irmãs Carmelitas da Madre Candelária. Congregação fundada na Venezuela por uma pobre viúva. Atualmente está se expandindo para a Bolívia e o Brasil (2003). Vieram para Capim Branco em Minas, mas não puderam continuar lá. Com a ajuda das irmãs carmelitas da Divina Providência foram para Mariana, MG.
6. O grupo Donum Dei veio ao Brasil em 1978. É um Instituto leigo, nascido na França depois da guerra que existe nos quatro Continentes com mais de 600 membros. Elas têm uma comunidade na favela do Pavãozinho no Rio. Tem contato com nossa comunidade da Lapa, mas participam muito pouco nos encontros inter-carmelitanos.
7. Temos contato com várias outras Congregações Carmelitas ligadas aos carmelitas descalços. Irmãs Carmelitas missionárias do Sagrado Coração do México que tem duas comunidades na Diocese de Volta Redonda. Um grupo de irmãs Carmelitas com casa em Betim, MG. Outra congregação com casa em Jacareí e outra com casa em Belém do Pará.
3. Mosteiros.
Em 1947 a pedido de Dom Gabriel Couto, O.Carm, vieram as primeiras irmãs Carmelitas holandesas para Jaboticabal. Conseguiram realizar uma nova fundação em Paranavaí. Uma outra fundação em Petrolina fracassou. Estão pensando seriamente numa fundação no Nordeste, numa das dioceses dos nossos bispos carmelitas. Importante nós ajudarmos.
Vários dos nossos frades mantêm contatos com as irmãs carmelitas descalças de vários mosteiros do ramo Descalço. Há assessoria da nossa parte para elas, e participação em seus encontros.
4. Grupos de Leigos e Leigas Carmelitas.
Ao redor de quase todas as nossas casas e ao redor das Congregações estão surgindo grupos carmelitas de leigas e leigos. Alguns deles já têm a sua organização própria e autônoma, como a Fraternidade Carmelita Leiga em Minas Gerais que tem vários grupos em Belo Horizonte, Ouro Preto e Marimbá. Ao redor das Carmelitas Missionárias de Santa Terezinha do menino Jesus está surgindo um grupo de leigos que pedem nossa assessoria.
Também neste ponto temos muito a aprender dos nossos irmãos descalços. Entre eles existe a Ordem Carmelita Descalço Secular, OCDS, que tem sua organização e autonomia. Estão divididos em Províncias com seus encontros e capítulos. Participaram ativamente no Congresso do ALACAR em Bogotá em 2009.
3. Iniciativas inter-carmelitanas
Na segunda metade do século cresceu entre nós a consciência de pertencermos todos e todas à mesma Família Carmelitana. Dos anos sessenta até o ano 2000, apareceram muitas iniciativas em nível inter-carmelitano. Este fenômeno está acontecendo não só entre nós, mas em praticamente todas as Ordens e Congregações Religiosos. Trata-se de algo do rumo do Espírito de Deus. O Carisma não pertence aos frades. Pertence à Igreja, e a sua riqueza aparece quando a vivência do carisma é partilhada por frades, irmãs, leigas e leigos. Vou tentar enumerar algumas destas iniciativas:
1. Entre as três Províncias.
Em termos das três províncias, sobretudo da província nossa com a do Nordeste, há muitas iniciativas:
1) Os estudantes frades do Nordeste durante muitos anos estudaram conosco aqui em São Paulo;
2) Um frade da nossa província, frei Sebastião Boerkamp foi provincial da Província do Nordeste durante vários anos;
3) Por ocasião do sétimo centenário do Escapulário em 1951, houve a visita da Virgem Peregrina em todo o Brasil. Partiu do Nordeste e teve muita participação da nossa província.
4) Na crise dos anos pós-conciliares diminuiu um pouco, mas recomeçou nos anos 80:
* 1982-1991: noviciado comum das três Províncias em Camocim
* Várias interrupções da parte da nossa Província e do Comissariado do Paraná.
* 2001-2004: noviciado comum em Graciosa
* 2005-2007: noviciado comum em Camocim
* 2008-2010: noviciado comum em São Cristóvão
5) Criou-se a Casa de Teologia interprovincial em Belo Horizonte.
6) Ajuda mútua entre frades
7) Novo Noviciado em 2011 em BHZ
2. Entre os frades, monjas, irmãs e leigos
Neste nível foram tomadas muitas iniciativas desde os anos sessenta. Lembro aqui só algumas:
* EICAL: Encontros Inter-carmelitanos da AL, iniciados pelo frei Rafael Cecca OCD do México
* EICAB: Continuação do EICAL no Brasil
* APEC: Aprofundamento da Espiritualidade Carmelitana, iniciada pelas irmãs Carmelitas da Divina Providência em Mariana MG, julho de 1985,
* INTERCAB: Encontros Inter-carmelitanos do Brasil, iniciados em 1987 e continuados, anualmente, até o ano passado. Terá continuidade no ano que vem, assumida pelos superiores e superioras carmelitas do Brasil na sua última reunião.
* Carmelo-Bíblia: fruto do INTERCAB com participação grande dos jovens. Funcionou até 1996. Sua continuação foi a preparação para o novo Milênio, que produziu os três cadernos sobre Fraternidade, Mística e Profecia.
* Carmelo-Solidariedade: fruto do INTERCAB e funciona até hoje, anualmente no início do mês de fevereiro no Mosteiro Monte Carmelo, Curitiba.
* Carmelo-Missão: fruto do INTERCAB: cada dois anos, animado pela equipe do Nordeste
* Carmelo-Liturgia (não teve futuro)
* Carmelo-História (não teve futuro)
* Encontros das irmãs e irmãos inseridos, realizados algumas vezes no Nordeste nos anos 80.
* Retiros Carmelitanos: realizados várias vezes no Carit, Rio de Janeiro, nos anos 80 e 90, e teve como fruto a elaboração do retiro de 40 dias do Profeta Elias
* Visitas mútuas e realização da Pascuela,
* Ajudas mútuas em cursos e hospedagem,
* Noviciado em comum,
* Encontros inter-carmelitanos de junioristas,
* Assessorias várias,
* Jornadas missionárias,
* Atividades e contribuições de frei Boaga e irmã Camélia: fizeram muitos cursos em vários lugares, desde os anos 80 e produziram vários escritos de formação sobre a Regra do Carmo, o Profeta Elias e sobre Nossa Senhora.
* Publicações
* Eremitério Profeta Elias, Lídice RJ, fundado e orientado por Dom Vital,
* Preparação para os votos perpétuos
* Comissão mista OC-OCD da América Latina
* ALACAR e os dois congressos do ALACAR,
* Encontros periódicos dos Superiores e Superioras Carmelitas da AL
* FOCAL
* SICAL (não teve futuro)
* Elaboração de um Plano Global da presença e atividade nossa neste Continente.
* Elaboração de um Plano Global para o Carmelo do Brasil com os seguintes itens e programas:
01 Carisma e Espiritualidade
02 Vida em fraternidade: formação e Família Carmelitana
03 Missão profética: serviço ao povo de Deus
Projeto inter-carmelitano de Caririaçu
Última reunião dos Superiores e Superioras do Brasil
Todas estas iniciativas em termos de Família fazem parte do rumo do Espírito. É um sinal dos tempos, um apelo à nossa consciência. Um desafio.